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Resiliência e Espiritualidade

Resiliência é o poder de recuperação que tem uma mola quando esticada em seu limite, de retomar sua forma original. É o trabalho necessário para deformar um corpo físico até seu limite elástico e obter o seu retorno à normalidade.

O Novo Dicionário Aurélio traz a  seguinte definição: “é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida, quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica”. Este termo, então, advém da Física, e passa o sentido de elasticidade, flexibilidade de um corpo que mesmo pressionado, esticado, dobrado, não perde sua propriedade, não se deforma. Ainda que esta idéia não expressa sua totalidade esse termo tem sido utilizado pela Psicologia, emprestado da Física, cuja conotação específica queremos transpor aqui.

Em psicologia, resiliar [résilier] é recuperar-se, ir pra a frente depois de uma doença, perda, trauma ou estresse. É vencer as provações e as crises da vida, resistir a elas primeiro, e superá-las depois, para prosseguir vivendo da melhor forma possível.

O primeiro a usar o termo resiliência, em sentido figurado, foi o conhecido psicólogo John Bowlby, que o definiu como um recurso moral, qualidade de uma pessoa que não desanima, que não se deixa abater.

O paradigma da resiliência descreve como a fé, a espiritualidade, ou a pertença a um grupo, comunidade ou instituição religiosa influenciam no momento da superação das dificuldades e sofrimentos pessoais e sociais.

As atitudes resilientes podem ser promovidas, com o apoio de pessoas ou instituições (família, igreja, escola, centro de saúde, organizações ou associações sociais, políticas,etc. etc.), que se preocupam em motivar a ativação das capacidades de superação das dificuldades. Pensa-se na ação preventiva e na promoção da saúde, como fomentá-la no ambiente familiar, social, de trabalho e de missão, mediante a educação, intervenções sociais, políticas públicas, assim como dos projetos comunitários civis ou eclesiais.

As capacidades resilientes dos seres humanos e dos grupos, por mais promovidas e desenvolvidas que estejam, não são ilimitadas. Todo ser humano tem um limite pessoal para lidar com a adversidades.

Para promover e potencializar a resiliência de um grupo ou de uma pessoa é preciso investigar e descobrir os pilares que sustentam a resiliência, os recursos próprios que as pessoas dispõem, e os fatores de proteção do meio circundante, as capacidades que há na família, no ambiente ou na instituição educativa, social, política ou religiosa. Esse processo de fortalecimento e capacitação é conhecido hoje como “empowerment” e preocupa-se em “identificar os recursos, revelá-los a quem os possui e, que muitas vezes não sabem que os possui, e ajudá-los a recorrer a eles em momento oportuno.

Flach (1991) estabelece alguns traços característicos da personalidade e alguns atributos do indivíduo resiliente. Os principais são:· auto-estima, senso de humor,· independência de pensamento e ação, sem medo de depender dos outros ou relutância em fazê-lo, quando necessário, capacidade de trocas nas relações, ter um grupo estável de amigos (inclusive alguns confidentes). Ainda, ter disciplina pessoal e senso de responsabilidade, reconhecimento e desenvolvimento de dons e talentos pessoais, auto-respeito, criatividade, habilidade para recuperar a auto-estima, quando temporariamente perdida, capacidade para tolerar a dor e o sofrimento, abertura e receptividade para novas idéias, aprender, disposição para sonhar, uma vasta gama de interesses, respeito aos próprios sentimentos e percepção dos sentimentos dos outros, capacidade para comunicar suas opiniões de maneira adequada, flexibilidade, concentração, compromisso com a vida, e uma filosofia de vida na qual as experiências pessoais possam ser interpretadas com significado e esperança, até mesmo em momentos desalentadores da vida.

A literatura sobre resiliência ainda é pouco exaustiva ao falar de religiosidade, fé ou espiritualidade. Poucos são os autores que abordam a temática. No entanto, Vanistendael, com marcada ênfase nesse aspecto, considera que o sentido da vida, como pilar de resiliência, pode estar vinculado a uma filosofia de vida, vida espiritual e fé religiosa.

Alguns estudiosos no assunto consideram a espiritualidade um suporte para as crises, superação e cura. Para Neale Donald Walsch, autor norte-americano da série de livros “Conversando com Deus”,  a religião e a espiritualidade, como fatores resilientes, são recursos terapêuticos poderosos em momentos de adversidades.

Profa. Dra Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica